A Internet no contexto familiar
Juciano Lacerda
Prof. Decom/UFRN
Prof. Decom/UFRN
Certa vez fui convidado para falar aos pais de um colégio particular sobre o tema da Internet. O primeiro diagnóstico foi desesperador. Assim como os pais não tinham mais controle sobre o que os filhos assistiam na TV, depois que instalaram aparelhos nos quartos dos filhos, também não o tinham sobre a Internet, uma vez que repetiram o mesmo equívoco: colocaram computadores em rede no quarto da criançada.
Como acompanhar, como aconselhar, como saber o que se passa? Quase impossível. Daí vem graves problemas: acesso a páginas impróprias para crianças; risco de deixar senhas abertas para roubos on line; alvo fácil para pedófilos... A lista é grande.
Um dos problemas centrais não está na TV ou na Internet, mas no contexto familiar, que vem perdendo seu papel de mediador entre a criança e a realidade social e as tecnologias. Trocando em miúdos: num primeiro momento, os pais elegeram a TV como “babá eletrônica”. Ligavam-na e deixavam os filhos ali, diante da janela para o mundo, uma vez que ficavam “quietinhos”. Agora, temos a “ciber-babá”, a “babá digital”, com a qual a criança também interage muito mais.
Como nossas famílias vem deixando de ocupar as ruas, as praças, os parques, com medo da violência (se a gente ocupasse coletivamente esses espaços, não haveria tanto espaço para os criminosos). E a única opção de lazer dos filhos passa a ser a TV ou a Internet. E muitos usam-na bem, por exemplo, para interagir com outro coleguinhas também “sitiados” dentro de seus próprios apartamentos. Mas ficar demais diante do computador não faz bem nem a gente grande, quanto mais a gente pequena.
Em pesquisa que realizei durante doutoramento, percebi que em bairros populares – onde as crianças ainda vão para as ruas, praças e salões de igrejas, ou usam a Internet coletivamente em telecentros comunitários – o uso da Internet é muito mais sadio, produtivo e, principalmente, controlável pelos pais.
Duas lições ficam dessas experiências. A primeira é que o computador com Internet tem que ficar, em casa, num local coletivo, em que toda a família possa ter acesso, com horários bem estabelecidos e regras para todos. É uma primeira lição de convívio social e de partilha do tempo de uso da informação. Um processo altamente educativo e de saudável controle: cada um espera sua hora, usa o seu tempo e tem a sensação de que sempre alguém o está observando em sua navegação.
A segunda lição é uma questão em que sempre penso. Por que nos condomínios fechados, os pais se preocupam e gastam tanto com segurança (câmeras de vídeo, vigilantes, alarmes, cercas elétricas etc) e não destinam um centavo sequer para contratar um recreador? Ele poderia brincar, no pátio, com todos os filhos dos condôminos, que trocariam, com certeza, a TV ou a Internet, por correr, pular e brincar com coleguinhas de carne, osso e energia pura e vital.
Publicado no Jornal A Ordem, Natal-RN, em 15 de novembro de 2009.
Marcadores: família, Internet, sociedade da informação, telecentros
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