09 maio 2006

Novas tecnologias e nossa "cobertura" internacional

É comum nos textos sobre novas tecnologias da comunicação se falar das poderosas tecnologias de processamento e transmissão de dados contemporâneos. Mas se temos em casa câmeras digitais e transmitimos nossa imagem para familiares e falamos com amigos no exterior, aproximando distâncias, não parece ser o caso de nossa mídia jornalística brasileira.

Em recente palestra no Bom Jesus/Ielusc sobre "Verdades na Pesquisa em Comunicação", o professor e pesquisador da Unisinos Dr. Efendy Maldonado ressaltou a cobertura das grandes redes brasileiras sobre a nacionalização dos hidrocarbonetos pela Bolívia. Nossos jornalistas, na televisão, transmitiam as notícias por telefone com aquele antigo formato, dos anos 70-80, cujo recurso é colocar um mapa do país e a foto do repórter. "Não teria ele uma câmera dessas caseiras e um computador para transmitir as imagens?", questiona Maldonado.

O fato é que a quase totalidade da cobertura nacional foi baseada em agências internacionais. Em tempos de tecnologias tão potentes, nossa mídia usa de formas narrativas tão arcaicas na hora de produzir jornalismo ou se baseiam em versões cujo olhar tem um eixo na visão dos países centrais do poder econômico transnacional. É o que critica o jornalista Antônio Brasil, em recente artigo no Comunique-se: "Hoje, mais do que nunca, a nossa cobertura latino-americana é refém das agências internacionais, ou seja, das agências norte-americanas. A mídia brasileira se limita a cobrir alguns jogos de futebol, desastres naturais, escândalos ou, como agora, quando somos surpreendidos com decisões políticas finais".

Tal postura de subserviência ao discurso único dos grandes grupos internacionais de informação tem o risco de fazer os brasileiros produzirem um capital simbólico-informacional sobre a América Latina com base em visões neoliberais, portadoras de um discurso único que são incapazes de traduzir a identidade latino-americana. "O princípio da globalização não chegou na cobertura internacional. Não há um intercâmbio ou reciprocidade de notícias relevantes entre os países ricos e pobres. Quando há uma notícia sobre a América Latina, esta costuma ser mínima e na maioria das vezes, negativa. Prevalecem as amenidades, os desastres e os estereótipos", destaca Brasil.

Em tempos de novas tecnologias de comunicação, nossas empresas de comunicação ainda representam a subserviência político-editorial. Soluções criativas em nome de uma cobertura com olhar nacional sobre a América Latina é possível. A questão é: que interesses defendem nossos grupos de mídia? Parece-me que seus próprios interesses... Ainda não me convenceram do contrário. [Juciano Lacerda]

Confira na íntegra, o artigo "Por que mídia brasileira ignora a América Latina?"de Antônio Brasil.